domingo, 3 de agosto de 2008

Lembranças


Osvaldo, um ser insípido, de pouca fala, que trazia no olhar a tristeza de um passado jamais esquecido. Personalidade talvez influenciada pelo próprio nome, de significado forte. O poder dos deuses, uma pessoa que não se abala com nada. Por isso, muitas vezes considerado frio e calculista. Seus cabelos já desbotados, em contraste com o sobretudo preto, podem ser marcas de uma vida repleta de amor, saudade e sofrimento, ou quem sabe de arrependimento, esse sentimento que nos faz querer voltar no tempo.
Em uma noite, como outra qualquer, ao adentrar a sua biblioteca para fazer o seu habito diário e se encontrar com suas únicas companhias, nota algo diferente. Havia um livro sobre sua poltrona. Um livro aparentemente normal, capa dura, roxo, de aproximadamente 200 paginas branquíssimas, não ainda afetado pelas marcas do tempo.
Em passos lentos curiosamente aproxima-se, apanha aquele conjunto de folhas impressas e começa a folheá-lo. Uma indignação toma conta da sua mente por não se recordar de ter-lo lido, uma vez que todas as suas obras já lhe eram intimas. Sentado em sua poltrona predileta começava a ler aquele livro. Após cada página sua curiosidade era cuidadosamente aguçada. O autor buscava em cada palavra induzir o leitor a não desistir da leitura. E com Osvaldo não foi diferente.
A historia se passava em Lucerna, uma bela cidade na Suíça. Com os mais belos centros turísticos do país. Um local perfeito pra uma ardente paixão. Tudo girava em torno de um rapaz de 19 anos, dotado de poucos amigos e uma família bem problemática. Uma vida difícil.
Apesar de todas as dificuldades, ele procurava viver da melhor forma. Estudava, trabalhava e seguia sua vida. Diariamente saia para ver as estrelas, esse era o momento em que se sentia feliz. Entre um grupo de estrelas e uma bela paisagem, ele conheceu uma linda garota. Seus olhos brilhavam ao ver aquele vestido vermelho destacado na pele branca, e aqueles cabelos soltos, balançando com o vento. Ali surgia um forte amor, uma inclinação da alma e do coração. Um verdadeiro sentimento.
O tempo se passou, e ambos se encontravam envolvidos com o mesmo afeto. Eram realmente feitos um para o outro. Firmaram união legítima. O amor por sua mulher se intensificava a cada dia, mas o ciúmes também. Um belo dia ele descobrou que seria pai. Aquela noticia o deixou muito feliz, pois agora haveria um ser que simbolizava o eterno amor dos dois. Noves meses se passaram e nasceu uma linda menina. Pele branca, olhos e cabelos claros, uma verdadeira princesa. Por ser tão pequena, dependia muito de sua mãe, e isso começava a causar um ciúmes cada vez maior.
Um ano se passou, e o ódio pela criança crescia dentro do pai. Devido a sua obsessão, ele não aceitava dividir o seu grande amor com aquele ser tão dependente. E planejou a morte da própria filha.
Sem forças para continuar, Osvaldo fecha o livro, e se debruça em lágrimas. Alguns instantes depois ele se recompõe e retoma a leitura.
Na manhã seguinte, ele acorda e vai em direção ao quarto da criança. Olha aquele ser inocente, e por um instante desiste de praticar aquele ato tão insano. Entretanto, o ódio vem a sua mente e ele comete o crime. O sangue de sua própria filha estava em suas mãos.
A mãe procurando seu marido, vai em direção ao quarto da menina e o encontra caído no chão, dizendo que foi por amor. Ela corre até o berço e toma a criança em seu colo. Percebendo que aquele ser não tinha mais vida, começa a gritar chamando-o de assassino e chorar desesperadamente. Ele diz que não suportava mais dividi-la. Após o incidente o rapaz foi mandada para uma clinica psiquiátrica, permanecendo ali por anos. Com a recuperação, volta a vida social. Mas, nesse instante encontra-se sozinho, lutando com um passado que teme em persegui-lo.
Osvaldo fecha o livro e se emociona com sua própria historia.